I N S P I R A T I O N  S E R I E S

PRATO DO DIA - COM LUCAS ARAÚJO

 Fotos: @fellipeditadi

Qual é o seu nome, sua idade e de onde você vem? 

Lucas Araújo, 26 anos, potiguar (Potiguar é quem nasce em Natal) 

De onde veio o desejo de cozinhar? Teve algum momento ou pessoa que despertou isso em você? 

Cozinhar veio mais pela necessidade, desde cedo morei com minhas irmãs e a gente tinha que se virar fazendo nossa comida, de tanto fazer a mesma coisa eu enjoei e comecei a pesquisar algumas receitas pra fazer em casa, isso eu tinha uns 12 anos. Conforme foi passando o tempo fui gostando cada vez mais das combinações de sabores, texturas diferentes e ingredientes novos. 

Onde você mora hoje e por onde já passou? Como viver nesses lugares refletem na sua cozinha e na sua forma de trabalhar?

Hoje em dia moro no Rio de Janeiro. Na minha jornada já morei em Porto Alegre e Pipa, sempre indo à trabalho pra esses lugares e tentando viver ao máximo a vibe de cada um deles. Acredito que Porto Alegre me ensinou muito sobre técnica, me deu muita base pra conseguir transformar os ingredientes em pratos e me mostrou muito a cultura da comida e de cozinhar. Já a pipa tocou mais meu coração, me fez entrar em contato de novo com minhas raízes depois de ter ficado alguns anos fora, isso foi mágico pra mim, fez eu me reconectar comigo mesmo, e hoje em dia carrego um pouco dos dois comigo, mas principalmente as coisas da minha terra. 

Você fala sobre a busca por um trabalho “ideal”, como encontrou (ou está encontrando) esse equilíbrio entre a cozinha e uma vida com mais respiro, como surfar e estar em contato com a natureza?  

Na realidade não existe trabalho ideal, mas existe o trabalho que você se sente bem. Sou a pessoa que veste a camisa da empresa e dá o sangue, amo oque faço. Os primeiros 4 anos de cozinha profissional foram bem intensos, tinha muita vontade de crescer na profissão e trabalhava uma média de 12 horas por dia, isso quando não tinha um segundo emprego. Acabei sentindo o peso disso mais na frente e quase desisti da profissão. Até que surgiu uma proposta de trabalho em pipa. Como já tinha alguns amigos lá e frequentava bastante a cidade, decidi aceitar. Ir morar em pipa abriu meus olhos pro fato de que viver não é só trabalhar, lá conheci o surf e me senti completamente conectado com aquilo. Isso fez com que eu desacelerasse e percebesse que consistência é muito mais importante do que trabalhar como se não houvesse amanhã, e, aos poucos fui achando meu equilíbrio, trabalhando menos horas, porém entregando muito mais simplesmente por estar bem comigo mesmo. 

Na sua visão, como a nova geração está transformando a forma de liderar na cozinha? O que muda na prática com esse novo olhar?

Acho que a nova geração está mais humanizada. A hierarquia é uma coisa essencial na cozinha, porém alguns anos atrás era mais comum ver um chef gritando com seus cozinheiros, claramente não por problemas dentro da cozinha, mas sim fora dela ou as vezes simplesmente por ego. Acredito que a nova geração sabe separar mais a vida pessoal da profissional, trata todos iguais independente do cargo, mas ao mesmo tempo está organizando e guiando todos pra um funcionamento otimizado dentro da cozinha. Na prática você vê todos da equipe trabalhando com um sorriso no rosto, sem uma carga horária excessiva, e entregando um baita resultado (sim, isso é possível).

O que você diria hoje para alguém que ama cozinhar, mas tem receio de seguir a profissão por medo da rotina pesada e exaustiva?  

Diria pra buscar oque mais você se encaixa. Hoje em dia existem diversas formas de trabalhar com comida, é uma área que está em constante expansão e tem espaço pra todos. E se for escolher trabalhar em restantes, buscar uma empresa que tenha valores e princípios, é difícil, mas não impossível.

Tem algo mais que você gostaria de compartilhar sobre sua trajetória ou o que te move na profissão?  

Logo que saí do curso de gastronomia queria muito trabalhar em um restaurante que frequentava, porém eles só tinham vaga no salão. Fiquei como garçom por um mês e meio até abrir vaga na cozinha, e finalmente aconteceu. 5 dias depois fui demitido porque segundo o dono queria fazer as coisas "perfeitas demais", e cozinhar não era aquilo. 2 meses depois o restaurante fechou. 

Muitas vezes você só está no lugar errado! Busque sempre um lugar que te faça subir o nível, e faça isso pelo local também. A magia só acontece quando há reciprocidade.  

Nosso encontro com Lucas foi acompanhado por uma receita de creme de camarão com abóbora, e ele deixou a receita com a gente.

Creme de abóbora com camarão

Ingredientes: 

• 300g camarão 
• Coentro e ervas frescas pra finalizar 
  
  Creme de abóbora: 
   
• 1 abóbora pequena 
• 100g cebola 
• 100g pimentão vermelho
• 15g azeite dendê 
• 15g óleo de girassol 
• 1 coco seco 
• 300g água 
• Cabeça e cascas do camarão 
• Sal e pimenta   

Modo de preparo:

• Refogue a cebola e o pimentão com o dendê e o óleo de girassol 
• Asse a abóbora inteira no forno por 1 hora a 180 graus e retire toda polpa 
• Refogue a casca do camarão e adicione a água, coe e bata no liquidificador com o coco seco, em seguida coe novamente. 
• Bata esse leite de coco com a polpa de abóbora e o refogado de cebola e pimentão até virar um creme liso. 
• Refogue o camarão e misture o creme, sirva com as ervas por cima